Mensagem de um velhinho

sexta-feira, 15 de maio de 2009

MOINHO NA PONTE DA LAGARIÇA


1 comentário:

Maria de Lurdes Campelo de Sousa Rodrigues disse...

Não sabia eu que o Moinho da Ponte da Lagariça ainda moía. A sua fotografia remonta-me ao passado, assim como àqueles que, à cabeça ou às costas carregaram o milho, o centeio e, muito mais tarde, o trigo, para que depois de terem passado pelo tradicional processo de moagem, regressassem, pela mesma via, às nossas casas.
Era longo e difícil o trajecto que se fazia! Descalços, carregados e com a barriga muitas vezes a "dar horas", tinha de se obedecer às ordens de quem mandava.
Chegada a farinha ao destino, pensava logo na confecção da broa que era a base da nossa alimentação. Peneiravam-se as duas quantidades de farinha e com o fermento que se pedia ao vizinho ou que, propositadamente, se guardava da fornada anterior, preparava-se a massa, juntando à farinha de milho alguma de centeio(chamada a mistura que servia para ligar a massa). Juntava-se-lhe, paulatinamente, água morna, sal que bastasse e "castigava-se" com as mãos a dita massa, de cima para baixo, de baixo para cima e de todos os lados até que a mesma ficasse fofa e ligada. Depois, juntava-se toda ao canto de um tabuleiro fabricado a propósito, fazia-se uma cruz em cima da massa, ao mesmo tempo que se pronunciava uma reza a qual, no momento, não me ocorre. Lembro-me apenas que se pedia a Deus o acrescento da massa. Deixava-se esta algum tempo a levedar(de 1,30 a 2.00 horas)e ia-se vigiando de modo a que quando a massa começasse a ter algumas "rachas" pequaninas, como se dizia na altura, estaria na hora de acender o forno.
Então, era um tal de enfiar-lhe lenha para que aquecesse depressa, porque a "fintura" da massa também se apressava!
Sabia-se que esta estava no ponto, quando abria grande "rachas".
E o sinal visível de que o forno estava quente, era uma marca esbranquiçada na sua fronte. Varria-se, de seguida, o forno, deixando as brasas nos lados e perto da porta para sustentarem o calor durante a cozedura do pão.
A operação seguinte era a de se tenderem os bolos e as broas numa tendedeira de pinho e postos numa pá redonda eram lançados no forno. Os bolos saíam primeiro porque eram menos espessos do que as broas. Comiam-se com sardinhas ou parte delas quando as havia!... e, por fim, saíam as broas.
Havendo pão já não se passava fome. O pior é que quase sempre se comia mais!.
Não teria muito a ver a associação que fiz entre o moinho e o modo como se fazia o pão. Mas, poderia este estar presente nas nossas mesas se os moinhos tradicionais ou os actualmente sofisticados não existissem? Eis a questão: